Do Anti-Blairismo

Existe alguma semelhança entre a fase pós-“choques petrolíferos” (73-74 e 78) e a fase actual, uma vez que em ambas as situações as economias desenvolvidas conheceram alguma dificuldade em obter taxas de crescimento económico  significativas (com dificuldades de absorção de mão-de-obra desempregada e aumento da NRU-“Natural Rate of Unemployment”).

Todavia, aquando dos choques petrolíferos, existia inflação com estagnação (estagflação), considerando-se que se apresentava indispensável reformular as políticas económicas num sentido mais liberalizante (pondo-se em causa as teses neo-keynesianas e emergindo as teses monetaristas e ultra-liberais à direita e, naturalmente, as teses neo-marxistas à esquerda).

Hoje em dia, existe um problema estrutural, o qual resulta do facto de os sectores motores da Terceira Revolução Industrial não mais disporem de capacidade para romper com situações de para-recessão económica, tornando-se indispensável que, através da criatividade e da inovação, surjam novos sectores motores de uma Quarta Revolução Industrial.

Assim sendo, a actual fase de para-recessão de múltiplas economias desenvolvidas (designadamente de múltiplas economias europeias) está, novamente, na origem da rejeição ultra-liberal de toda e qualquer reminiscência do que se convencionou designar de Estado-Providência, bem como da emergência das teses “frentistas populares”, de sabor mais ou menos populista.

Daí a rejeição da terceira via “Blairista”.

Daí a tese Europa contra-poder dos EUA, com desenvolvimentos, mais ou menos perfunctórios, de sabor anti-imperialista.

Sou dos que pensam que Blair é, presentemente, o líder mais carismático europeu da área da social-democracia e do socialismo democrático.

Sou dos que acreditam na “Terceira Via”.

Sou dos que pensam que a Europa não deveria ser um contra-poder dos Estados Unidos da América, mas antes uma aliada na luta pela democracia e pela liberdade.

É bom que se esclareça se existe ou não para os que assim pensam lugar para o Partido Socialista Português.

Porque se a ideia dos principais responsáveis do PS português é a de apoiar alternativas que passem pela defesa do “Anti-Blairismo”, pelo regresso ao unitarismo de esquerda e pela recondução da explicação de todas as tragédias – incluindo o terrorismo – à análise dos efeitos perversos do imperialismo americano, então tal significa que começa a não existir mais lugar nesse partido para os que pensam como o subscritor deste artigo.

Restará, portanto, saber se os que partilham de uma visão não “novecentista” do socialismo democrático estão ou não na disposição de fazer a vontade aos que pretendam defenestrar do partido a “heterodoxia Blairista”.

Nem mais, nem menos.

 

© 2006-2010, António Rebelo de Sousa.
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